Ogum: O Guerreiro Divino Que Forja Nossos Caminhos e Protege Nossas Batalhas!

Você já precisou de uma força extra para enfrentar um dia particularmente difícil? Ou talvez tenha agradecido mentalmente quando aquela entrevista de emprego deu certo, mesmo com todos os obstáculos? Se sim, é possível que – mesmo sem saber – você tenha sido agraciado pelas energias de Ogum, o poderoso orixá guerreiro. Hoje, 23 de abril, é celebrado em diversas regiões do Brasil o dia deste patrono do ferro, dos caminhos e da guerra, uma divindade tão antiga quanto a própria descoberta da metalurgia pela humanidade.

Imagine só um guerreiro celestial com espada em punho, abrindo caminhos como quem corta mato fechado com um facão bem afiado. É assim que muitos visualizam Ogum, a força divina que não permite que barreiras impeçam nosso progresso. Nas religiões de matriz africana e na Umbanda, ele é reverenciado como o aplicador da Lei Maior, aquele que estabelece a ordem no universo desde o macro até o micro, da galáxia mais distante até o átomo mais insignificante.

Se você está pensando “esse orixá parece durão demais para o meu gosto”, não se engane! Embora Ogum seja associado à guerra, ele é – antes de tudo – um protetor. Como explica Pai Pedro Scäråbélo do Colégio Espiritualista de Umbanda Caboclo Pery: “É nosso protetor na guerra do dia-a-dia para defender o pão, nos guardar das violências e dos ataques”. Pense nele como aquele amigo forte que você gostaria de ter ao seu lado quando as coisas ficam complicadas – o tipo que não foge de uma briga justa e sempre defende quem precisa.

As Origens Míticas de Ogum: Entre Forjas e Caminhos

Na tradição Nagô-Iorubá, Ogum é conhecido como o senhor da forja e do ferro, um conhecimento tão significativo que Pai Alexandre Cumino afirma que “o culto a Ogum seja tão antigo quanto a idade do ferro”. Imaginem a revolução que foi para a humanidade quando descobrimos como transformar minério em ferramentas! Antes do ferro, éramos limitados às pedras e madeiras, mas depois… bem, depois vieram facas, enxadas, arados e, claro, espadas. É como passar do tijolo Nokia para um smartphone último modelo – uma revolução tecnológica que mudou para sempre a história humana.

Cada civilização que aprendeu a dominar o ferro prosperou, e não é à toa que este orixá esteja associado ao progresso. Como bem coloca Makota Celinha Gonçalves, Ogum é o verdadeiro “Patrono do Desenvolvimento”. Se hoje você agradece por ter uma serra elétrica ao invés de passar horas com um serrote manual, ou se prefere digitar no computador a escrever à mão páginas e mais páginas, então você tem uma dívida de gratidão com as energias de Ogum.

O fascínio pelo ferro é compreensível quando pensamos nas infinitas possibilidades que ele trouxe. Na tradição dos orixás, esta não é apenas uma questão prática, mas espiritual. As ferramentas de Ogum – a espada, o escudo, o facão – não são apenas instrumentos de guerra, mas símbolos da capacidade humana de transformar seu ambiente e superar desafios. É como se Ogum nos dissesse: “Eu te dei o conhecimento do ferro, agora forje seu próprio destino!”

A Dimensão Divina: Ogum Como Manifestação da Lei

Na ciência espiritual proposta por Pai Rubens Saraceni, Ogum é compreendido como um dos “Tronos de Deus”, representando uma das qualidades fundamentais do Criador. Se pensarmos no universo como uma grande sinfonia, Ogum seria o maestro assegurando que cada nota seja tocada no momento exato, mantendo a harmonia do todo. Suas “irradiações” são descritas como “ondas retas e constantes”, estabelecendo ordem onde poderia haver caos.

Esta visão de Ogum como a “Lei de Deus em ação” pode soar abstrata, mas pense assim: quando você organiza sua casa ou estabelece uma rotina diária, está, em pequena escala, canalizando as energias ordenadoras de Ogum. Ele é o princípio que faz com que as estrelas sigam seus cursos, que as estações se sucedam, e que cada elemento encontre seu lugar no esquema cósmico. É como um programador divino cujo código mantém o universo funcionando sem bugs (na maioria das vezes!).

E atenção: esta lei não é dualista! Como destacado no Manual Doutrinário de Umbanda, “Nossa Lei não diz que podemos fazer o bem com a direita e o mal com a esquerda. Só podemos fazer o bem.” Ogum não é aquele chefe que tolera pequenas irregularidades – ele é o supervisor cósmico que assegura que a ordem divina prevaleça sempre. Se você já sentiu aquela inexplicável sensação de que “o universo está conspirando” para corrigir uma injustiça, talvez tenha sentido Ogum trabalhando nos bastidores.

São Jorge e Ogum: Um Encontro de Guerreiros

Um dos aspectos mais fascinantes da cultura brasileira é o sincretismo religioso, e poucos exemplos são tão emblemáticos quanto a associação entre Ogum e São Jorge. É como se dois heróis de universos completamente diferentes descobrissem que, no fundo, lutam pela mesma causa. E não é por acaso que esta conexão aconteceu – ambos compartilham o arquétipo do guerreiro corajoso que enfrenta forças superiores em nome da justiça.

São Jorge, nascido na Capadócia (atual Turquia) por volta do ano 275, seguiu a carreira militar como seu pai. Com talento excepcional, rapidamente ascendeu na hierarquia romana, tornando-se capitão e recebendo o título de conde com apenas 23 anos. Sua história poderia ter sido apenas a de mais um militar bem-sucedido, mas uma reviravolta dramática mudou tudo: ao testemunhar a perseguição aos cristãos, Jorge, influenciado pelos ensinamentos cristãos de sua mãe, não apenas abandonou sua posição privilegiada, mas confrontou publicamente o Imperador Diocleciano.

Imagine a cena: o Senado Romano reunido para aprovar a eliminação dos cristãos, e Jorge, um dos favoritos do imperador, levantando-se para denunciar a injustiça da decisão! É como um general de alta patente em uma ditadura militar súbito se declarar defensor da democracia. A coragem de Jorge custou-lhe a vida – após torturas e tentativas de fazê-lo renunciar à fé, foi decapitado em 23 de abril de 303 – mas seu exemplo de integridade e defesa da verdade reverberou através dos séculos.

O Culto Contemporâneo: Como Ogum Fortalece Resistências

“Ogum foi essencial para nos fortalecer nas nossas resistências nestes últimos anos de retrocessos”, diz Pai Pedro, e não é difícil entender porquê. Em tempos de crise – seja pessoal, social ou política – a energia guerreira de Ogum oferece não apenas proteção, mas coragem para persistir. Pense nele como aquele podcast motivacional que você ouve antes de enfrentar um desafio, só que infinitamente mais poderoso!

As características de Ogum como defensor da justiça e da ordem são especialmente relevantes quando comunidades enfrentam preconceito e perseguição. A história do sincretismo religioso no Brasil é, em grande parte, uma história de resistência criativa – quando as religiões de matriz africana foram proibidas ou perseguidas, seus praticantes encontraram formas de preservar suas tradições “camuflando” orixás como santos católicos. É como se Ogum, o mestre estrategista, tivesse inspirado seus devotos a encontrar novos caminhos quando os antigos foram bloqueados.

Hoje, Ogum continua sendo central na preservação e renovação da cultura afro-brasileira. Como afirma Makota Celinha Gonçalves, “Ogum é essencial para alimentar a fé de todas e todos que tem nele um protetor. Ogum é um Pai maravilhoso a quem nos entregamos sem medo, pois ele nunca abandona os seus”. Esta confiança não é apenas uma questão de fé abstrata, mas se manifesta em práticas concretas como as celebrações coletivas, onde comunidades se reúnem para honrar o orixá com músicas, danças e, é claro, a tradicional feijoada de Ogum.

Celebrando o Guerreiro: Como Honrar Ogum no Cotidiano

Você não precisa frequentar um terreiro para incorporar as energias de Ogum em sua vida. Muitas pessoas honram o orixá guerreiro com pequenos gestos cotidianos: usando a cor azul às terças-feiras (dia tradicionalmente associado a ele), mantendo uma espada de São Jorge (a planta, não a arma!) em casa, ou simplesmente recitando uma prece quando enfrentam desafios.

Para quem deseja participar de celebrações mais formais, muitos terreiros e casas de Umbanda realizam festividades abertas ao público, especialmente próximo ao dia 23 de abril. Estas celebrações geralmente incluem cantos, danças e oferendas típicas como a feijoada, pois Ogum, como bom guerreiro, aprecia uma refeição substanciosa! É uma oportunidade não apenas de honrar o orixá, mas de vivenciar a riqueza cultural das tradições afro-brasileiras.

E se você está pensando “mas eu nem sei como me aproximar dessas tradições”, lembre-se que Ogum é também o senhor dos caminhos – ele pode ajudar a abrir as portas do conhecimento e da compreensão. Como guerreiro, ele combate a ignorância e o preconceito, abrindo espaço para o diálogo e o respeito mútuo entre diferentes tradições espirituais. Talvez o primeiro passo seja simplesmente estar aberto a aprender mais sobre estas ricas tradições que formam parte fundamental da identidade brasileira.

O Guerreiro que Abre Nossos Caminhos

Ogum, o orixá guerreiro que maneja o ferro e aplica a Lei Divina, continua sendo uma força vibrante na espiritualidade brasileira. Seja como o antigo deus iorubá da metalurgia, o aspecto ordenador da divindade suprema, ou o santo guerreiro que defende os oprimidos, suas múltiplas facetas refletem a complexidade da experiência humana e nossa eterna busca por proteção e significado.

Em um mundo onde muitas vezes nos sentimos à mercê de forças além de nosso controle, Ogum representa a possibilidade de forjar nosso próprio destino, de abrir caminhos onde antes havia apenas obstáculos. Como diz o ponto cantado nos terreiros: “Ogum é força, é poder, é magia” – uma energia que, segundo seus devotos, está disponível para todos que a buscam com sinceridade e respeito.

Então, da próxima vez que você enfrentar um desafio aparentemente insuperável, lembre-se do orixá guerreiro que, há milênios, ensina a humanidade a transformar minério bruto em ferramentas de progresso. Patakori Ogum! Salve Jorge! Que o senhor dos caminhos continue abrindo estradas de possibilidades para todos nós.

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