Celebrando o Povo Cigano: Dias Internacionais e Sua Relação com a Umbanda

Entre Celebrações e Espiritualidade

Imagine um povo cuja história é tecida por caminhadas sob o sol e a lua, com músicas que ecoam através de séculos e tradições que resistem ao tempo. O povo cigano, com sua rica cultura e espiritualidade, é celebrado em duas datas importantes que marcam sua existência e resistência: o Dia Internacional do Povo Cigano, em 8 de abril, e o Dia Nacional do Cigano, em 24 de maio no Brasil. Mas, além dessas comemorações, há uma conexão profunda entre a cultura cigana e a Umbanda, religião brasileira que abraçou muitos de seus elementos sagrados.

O Dia Internacional do Povo Cigano – 8 de Abril

A data de 8 de abril foi estabelecida durante o Primeiro Congresso Mundial Romani, realizado em Londres em 1971. Este evento histórico marcou o reconhecimento internacional dos ciganos como um povo unido, apesar de sua dispersão pelo mundo. A data comemora não apenas a identidade cultural cigana, mas também representa um marco na luta por direitos e contra a discriminação que estes povos enfrentam historicamente.

O dia é celebrado com festividades que incluem música, dança, comidas típicas e rituais tradicionais. A bandeira cigana, com sua roda azul e verde sobre fundo azul e vermelho, é erguida como símbolo de liberdade e conexão com a natureza. A roda de carroça simboliza a jornada contínua, enquanto as cores representam o céu, a terra e o sangue derramado nas perseguições sofridas.

> “O povo cigano tem uma rica tradição cultural que precisa ser preservada e respeitada. Nossa música, dança e espiritualidade são contribuições valiosas para o mundo.” – Sara Kalderash, liderança cigana

O Dia Nacional do Cigano no Brasil – 24 de Maio

No Brasil, o Dia Nacional do Cigano foi instituído por decreto presidencial em 2006, escolhendo o dia 24 de maio como data comemorativa. Esta data coincide com as celebrações de Santa Sarah Kali (ou Sara Kali), considerada padroeira dos ciganos no catolicismo popular.

Santa Sarah é venerada especialmente em Saintes-Maries-de-la-Mer, no sul da França, onde ciganos de toda a Europa se reúnem anualmente para homenageá-la. Segundo a tradição, Sarah teria ajudado as três Marias (Maria Madalena, Maria Salomé e Maria Jacobé) quando estas chegaram à França vindas da Palestina após a crucificação de Jesus.

A escolha desta data para o Dia Nacional do Cigano no Brasil reforça a importância da espiritualidade para este povo, criando uma ponte entre suas tradições e o reconhecimento oficial de sua cultura.

Os Ciganos na Umbanda: Uma Relação Sagrada

A Umbanda, religião genuinamente brasileira que surgiu no início do século XX, incorporou elementos de diversas tradições espirituais, incluindo a cigana. Na cosmologia umbandista, os espíritos ciganos formam uma falange espiritual específica, conhecida como “Povo do Oriente” ou simplesmente “Linha dos Ciganos”.

A Falange Cigana na Umbanda

Na Umbanda, os espíritos ciganos são conhecidos por sua alegria, liberdade e conhecimentos sobre elementos da natureza, amor, prosperidade e adivinhação. Eles trabalham principalmente nas seguintes áreas:

  1. Cura e manipulação de ervas: Os ciganos são reconhecidos por seu vasto conhecimento sobre ervas medicinais e suas propriedades curativas.
  2. Amor e relacionamentos: São frequentemente consultados para questões amorosas, usando seus conhecimentos de magias e rituais.
  3. Prosperidade e abundância: Através de rituais com moedas, cristais e elementos dourados, auxiliam nas questões materiais e financeiras.
  4. Vidência e oráculos: São associados às práticas divinatórias como leitura de cartas, búzios e cristais.

Entidades Ciganas Populares na Umbanda

Algumas das entidades ciganas mais conhecidas e reverenciadas nos terreiros de Umbanda incluem:

  • Cigana Esmeralda: Conhecida por seus trabalhos relacionados à prosperidade e abundância.
  • Cigano Vladmir: Associado à proteção espiritual e remoção de obstáculos.
  • Cigana Carmem: Trabalha principalmente com questões amorosas e sentimentais.
  • Cigano Kirilo: Especialista em curas e tratamentos espirituais.
  • Cigana Zaira: Conhecida por sua sabedoria e habilidades divinatórias.

A Estética Cigana nos Rituais

Os rituais dedicados às entidades ciganas na Umbanda são caracterizados por cores vibrantes (especialmente vermelho, dourado e verde), música alegre, danças circulares e o uso de elementos como taças, moedas, cartas e lenços coloridos. As oferendas típicas incluem frutas vermelhas, champagne, joias, perfumes e doces.

“Na Umbanda, os ciganos representam a liberdade espiritual, a conexão com a natureza e a alegria de viver. Seus ensinamentos nos lembram da importância de viver intensamente cada momento.” – Pai João de Aruanda, sacerdote umbandista

A Simbologia Compartilhada

Existe uma rica simbologia compartilhada entre a cultura cigana tradicional e sua expressão na Umbanda. Alguns elementos importantes incluem:

  • A Roda: Símbolo do movimento constante e da jornada espiritual.
  • O Fogo: Representando purificação e transformação.
  • As Moedas: Símbolos de prosperidade e troca de energias.
  • As Cartas: Instrumentos de comunicação com o mundo espiritual.
  • O Violino e o Pandeiro: Elementos que expressam a alegria e a música como forma de conexão espiritual.

Preservação Cultural e Respeito

É importante ressaltar que, embora exista esta relação entre a cultura cigana e a Umbanda, deve-se sempre buscar compreender e respeitar a cultura cigana em seus próprios termos, evitando apropriações culturais indevidas ou estereótipos prejudiciais.

Os dias de celebração cigana, tanto o internacional quanto o nacional, são oportunidades para aprender mais sobre esta rica cultura, suas contribuições para a sociedade e os desafios que ainda enfrentam, como discriminação e prejuízos sociais.

Caminhos que se Encontram

A relação entre o povo cigano e a Umbanda representa um belo exemplo de como culturas e espiritualidades podem se encontrar e enriquecer mutuamente, formando novas expressões de fé e devoção. As datas comemorativas dedicadas ao povo cigano não apenas celebram sua cultura, mas também convidam à reflexão sobre inclusão, respeito à diversidade e valorização de saberes ancestrais.

Tanto no Dia Internacional do Povo Cigano (8 de abril) quanto no Dia Nacional do Cigano (24 de maio), podemos lembrar da importância de cultivar o respeito e a admiração por esta cultura milenar que, apesar das perseguições históricas, preservou sua identidade, suas tradições e sua espiritualidade, contribuindo de forma significativa para a rica tapeçaria cultural e espiritual do Brasil e do mundo.

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