Quem, o quê, quando, onde e por quê
As bem-aventuranças, registradas no capítulo 5 do Evangelho de Mateus, foram proclamadas por Jesus Cristo durante um discurso a discípulos, apóstolos e uma multidão reunida na Galileia, no início de Seu ministério público. Esses ensinamentos apresentam oito declarações que descrevem comportamentos elogiados por Deus e prometem recompensas espirituais e eternas para quem adota tais atitudes. As passagens, conhecidas coletivamente como Sermão da Montanha, integram o cânon do Novo Testamento, datado do primeiro século, e permanecem centrais na teologia cristã por explicarem, de forma compacta, como uma pessoa pode viver em consonância com a vontade divina.
Cada bem-aventurança começa com a expressão “Bem-aventurados”, traduzida do termo grego makários, que significa “feliz” ou “abençoado”. Em seguida, apresenta-se a característica valorizada por Jesus e, por fim, a promessa correspondente. Essa composição em dois tempos — atitude e recompensa — visa destacar que as bênçãos não se fundamentam em méritos humanos, mas na disposição interior que se volta para Deus e para o próximo.
Os versículos concentram-se em qualidades como humildade, arrependimento, mansidão, busca pela justiça, misericórdia, pureza de coração, promoção da paz e fidelidade sob perseguição. Embora sete promessas se destinem a qualquer pessoa que pratique tais virtudes, a oitava — relacionada à perseguição em razão da fé — destaca um resultado reservado a quem sofre especificamente por seguir Cristo.
As recompensas mencionadas nos versículos incluem “o Reino dos Céus”, “consolação”, “herdar a terra”, “ser farto”, “alcançar misericórdia”, “ver a Deus” e “ser chamado filho de Deus”. Além disso, há referência direta a um “grande galardão nos céus”. O texto bíblico sugere que tais bênçãos possuem dimensão presente e futura: algumas são experimentadas na vida terrena, enquanto outras se projetam para a eternidade.
O discurso de Jesus também associa essas dádivas ao dom da fé, uma capacitação concedida por Deus para que o crente reconheça Sua presença, dependa dEle e receba tanto benefícios espirituais quanto suprimentos materiais conforme a necessidade. A narrativa de João 14:16-17, na qual Jesus promete o Espírito Santo como “Consolador”, reforça essa perspectiva ao indicar que a presença divina se manifesta entre os fiéis antes mesmo da consumação final do Reino.
Pobres de espírito (Mateus 5:3)Reconhecer a própria limitação e depender de Deus constitui o ponto de partida da vida cristã. Quem assume essa postura, segundo Jesus, já participa do Reino dos Céus em caráter antecipado, pois permite que o Espírito de Deus opere internamente.
Os que choram (Mateus 5:4)A bem-aventurança refere-se ao arrependimento sincero e à sensibilidade diante do sofrimento alheio. Ao lamentar os próprios erros e as injustiças do mundo, o indivíduo vivencia o consolo divino, que remove a culpa e concede paz.
Mansos (Mateus 5:5)Mansidão, no texto bíblico, equivale a força controlada, sem arrogância nem violência. Jesus promete que quem age com essa serenidade “herdará a terra”, expressão entendida como participação em uma nova ordem pautada pela justiça divina.
Famintos e sedentos de justiça (Mateus 5:6)O anseio por retidão se compara à necessidade humana de alimento e água. Aos que buscam a justiça de Deus, Jesus garante satisfação plena, indicando que a transformação interior resulta em vida ética e consciente.
Misericordiosos (Mateus 5:7)A lógica “colhe-se o que se semeia” aparece nesta promessa. Quem demonstra compaixão torna-se apto a receber a misericórdia divina, afastando a dureza de coração que gera injustiça e opressão.
Puros de coração (Mateus 5:8)Pureza refere-se à integridade de motivações, pensamentos e atitudes. Esse estado interior possibilita “ver a Deus”, isto é, experimentar Sua presença de maneira autêntica e contínua.
Pacificadores (Mateus 5:9)Promover a paz nos relacionamentos constitui a marca de quem é reconhecido como “filho de Deus”. A proposta de Jesus inclui romper ciclos de hostilidade por meio do perdão e de gestos conciliadores.
Imagem: Internet
Perseguidos por causa da justiça (Mateus 5:10-12)A última declaração aborda a hostilidade enfrentada por quem mantém princípios cristãos. Apesar dos ataques, a garantia oferecida é a mesma que inaugura a lista: “deles é o Reino dos Céus”. O texto reforça que profetas e testemunhas da fé passaram por tratamento semelhante ao longo da história, mas receberam recompensa celestial.
Na Palestina do primeiro século, expectativas políticas sobre um Messias que restauraria Israel eram comuns. Ao enaltecer qualidades como humildade e misericórdia, Jesus confrontou visões predominantes que associavam a bênção divina a poder militar, legitimidade étnica ou observância ritual. Em vez disso, Ele enfatizou um Reino de natureza espiritual, acessível a todas as pessoas dispostas a adotar atitudes fundamentadas no amor a Deus e ao próximo.
O ensino também contraria a noção contemporânea de autossuficiência. Se a cultura moderna elogia independência absoluta, Jesus propõe dependência consciente do Criador. Do mesmo modo, ao valorizar os que choram e os perseguidos, o texto desafia a ideia de que felicidade é sinônimo de ausência de dor, mostrando que alegria genuína surge de uma relação sólida com Deus, capaz de atravessar adversidades.
A tradição cristã entende as bem-aventuranças tanto como descritivas — revelam o caráter de quem já foi transformado — quanto prescritivas — orientam comportamentos para quem deseja viver de modo aprovado diante de Deus. Assim, princípios como perdão, justiça e pacificação tornam-se referências para decisões cotidianas em família, trabalho e sociedade.
Além disso, a promessa de “ver a Deus” ao praticar pureza de coração sustenta a espiritualidade cristã: a vida interior é priorizada sem negar a importância de ações externas. Em termos éticos, a ênfase recai sobre serviço ao próximo, difícil de ser alcançado sem a humildade inicial mencionada por Jesus.
A lista de bem-aventuranças traz implicações sociais. A misericórdia combate a indiferença, a justiça confronta a corrupção e a paz reduz a violência. Desse modo, as declarações não se limitam à esfera individual; elas fornecem base para a responsabilidade comunitária que marca a prática cristã ao longo de dois milênios.
O texto de Mateus 5:11-12 sinaliza que confrontos morais e espirituais podem resultar em oposição aberta. A Bíblia registra que apóstolos, missionários e cristãos em diversas épocas sofreram represálias, e a passagem serve de consolo ao atribuir valor eterno a tais experiências. A ênfase na alegria diante da perseguição não nega a dor, mas realça a certeza de que a aprovação divina perdura além das circunstâncias adversas.
Os Evangelhos indicam que o Reino de Deus possui dimensão “já” e “ainda não”. Atualmente, o crente desfruta de perdão, presença do Espírito e comunhão com Cristo. No futuro, segundo a teologia cristã, haverá consumação total, na qual promessas como “herdar a terra” e “galardão nos céus” serão plenamente concretizadas. Esse duplo enfoque confere esperança presente e escatológica aos ensinamentos.
As bem-aventuranças de Mateus 5 apresentam um resumo do ethos cristão: demonstram que a verdadeira felicidade não depende de fatores externos, mas de atitudes alinhadas com a vontade de Deus. Elas estabelecem um padrão de vida que valoriza humildade, compaixão, integridade, busca por justiça, pacificação e perseverança sob oposição. Em troca, prometem bênçãos espirituais, participação no Reino e recompensa eterna, conceitos que moldam a compreensão cristã de bem-estar e propósito desde o século I.
Esses versículos continuam influenciando práticas religiosas, reflexões acadêmicas e debates éticos ao redor do mundo, reforçando a centralidade do Sermão da Montanha na mensagem cristã.
Fonte: Conexão Espiritual
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